Em junho, mês do Orgulho LGBTQIA+ (ou, LGBTQIAP+, sigla que remete à Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans, Queers, Intersexo, Assexuais e Pansexuais, que ainda pode trazer mais desdobramentos com o N de Não-binárias, por exemplo), a Dyxel Gaming tem a honra de ceder o lugar de fala para o Stéfano Moreno Verrastro, produtor e ativista da diversidade na indústria de jogos.
Sempre antenado neste universo, ele é formado em Design de Games e em seu currículo constam passagens na produção do BIG Festival, Abragames e no Projeto Setorial de Exportação Brazil Games. Também é integrante do Conselho da Diversidade da Abragames. Foi produtor na Sinergia Studios e hoje atua como produtor de arte na Diorama Digital, trabalhando com títulos como Predator: Hunting Grounds, Just Cause 4, Override Mech City Brawl 1 e 2, Borderlands 3 e Returnal.
Com a palavra, Stéfano:
“Antes de qualquer coisa, gostaria de agradecer à Dyxel Gaming e à Érika Caramello pelo espaço que me foi cedido para falar deste assunto. Muito obrigado, de coração. <3
Em junho é comemorado o mês do Orgulho LGBTQIAP+, marcando a Revolta de Stonewall, que aconteceu nos Estados Unidos no dia 28/6/1969. Desde então, o cenário está bem diferente para algumas letras desta sigla, especialmente nas grandes cidades que promovem eventos e levantam este orgulho e esta bandeira em busca de reconhecimento, direitos e representatividade. Pode parecer uma coisa muito simples e sem valor para aqueles que são representados cotidianamente na mídia, nas notícias e nas histórias contadas. Mas ver gente como a gente realizando sonhos e vivendo experiências que nós gostaríamos de viver tem um valor incrível, pois este pequeno símbolo de se ver representado em alguém fazendo algo que gostaria de fazer é motivação o suficiente para você também começar. É algo possível de ser alcançado, por mais que as outras pessoas lhe digam o contrário.
Existem vários meios de aumentarmos a representatividade LGBTQIAP+ no mundo dos jogos. Inclusive, algumas nós já estamos vendo acontecer, como a inserção de personagens mais diversos nas narrativas. Mas tenho visto dois outros pontos de representatividade que gostaria de dar atenção.
O primeiro deles, por conta da eterna busca do autoconhecimento na internet, hoje já é possível encontrar gente como a gente através das lives de jogos. Seja qual for a sua letra dentro da sigla do movimento, tenho certeza que é possível encontrar alguém que você se identifique jogando games e recebendo carinho da sua audiência. O simples ato de encontrar um ambiente seguro para pessoas iguais a nós já é um fator de esperança. Isso prova que existem redes de apoio e que há pessoas que nos entendem e que estão ao nosso lado. Por mais que vários dados apontem que pessoas LGBTQIAP+ são alvos fáceis de assassinatos – principalmente no Brasil que, pela 12ª vez consecutiva, é o pais que mais mata pessoas trans no mundo – ver streamers que nos representam é um grande passo. A receptividade com os grandes e os pequenos têm, nas mais diversas plataformas, é uma evidência de que a representação tem um grande potencial em conteúdos independentes e autênticos.
Aliás, falando em independência, chegamos no segundo ponto sobre representatividade que considero importante: representatividade na indústria, evidenciando principalmente os games indies. Ser representado numa história ou em alguma figura pública já tem o seu impacto, mas ver alguém igual a você realizando conquistas profissionais é algo inexplicável. Temos histórias no mundo inteiro de estúdios e projetos encabeçados por pessoas LGBTQIAP+. Projetos como o OFK Band, que estreiou no Game Awards, um dos eventos mais importantes da indústria dos jogos, e levantou discussões sobre sexualidade e identidade de gênero envolvendo uma banda, um jogo e streamers. No Brasil, onde 90% da população trans é marginalizada e obrigada a trabalhar com prostituição por conta de transfobia e falta de oportunidade de trabalho, os games estão reescrevendo essa narrativa ao vermos desenvolvedoras trans conquistando espaço na indústria com projetos de qualidade. Um exemplo que eu gosto muito é o UNSIGHTED, desenvolvido pelo Studio Pixel Punk, encabeçado pelas incríveis Tiani Pixel e Fernanda Dias, e finalista do BIG Festival 2018. Enfim, todos podem ocupar espaço nessa indústria, independente de sua origem, raça, gênero ou sexualidade.
Há outras iniciativas que merecem ser ressaltadas. Uma delas é o Conselho da Diversidade da Abragames, que aborda questões sobre a diversidade e a inclusão no mercado de games brasileiro. Também destaco o desenvolvedor e CEO Akira Legacy, que sempre produz conteúdo sobre a indústria e já me deu a oportunidade de falar da minha vivência como pessoa LGBTQIAP+ no mundo dos games. Há o Projeto Fierce, que tem como objetivo apoiar streamers LGBTQIAP+ através de ações em redes sociais. E, como não menos importante, a Drag Cora Lima, cujas mensagens da audiência dão apoio aos pequenos streamers que estão começando no ramo. Aliás, deixo aqui uma lista de streamers que vale ser seguida: VinyMox, LeonaGaymes, Bryanna, Maanavarro, Sher Machado, Nyx e toda uma thread com diversas recomendações.
Mais uma vez, obrigado à Dyxel Gaming pelo espaço. Vamos aproveitar este mês para refletir como a diversidade é algo positivo para todos, inclusive para os a indústria, como aponta o estudo do McKinsey, e fechar com o discurso de uma atriz sobre aceitação que me arrepia sempre que eu encontro online:
Eu deixei de procurar por aceitação quando eu me encontrei, quando eu me entendi. E percebi que a minha vida não depende da aceitação de outras pessoas. Buscamos coisas como aceitação e tolerância e não percebemos o quão depreciativo isto é, uma vez que colocamos os outros em pedestais acima de nós mesmos, quando deveríamos ser iguais. Portanto, eu não preciso que você me aceite. Posso até querer que você me entenda. Mas quanto a me aceitar, isso significa que eu acredito que vocês sejam melhores do que eu, ou que vocês tenham algum privilégio ou autoridade sobre a minha vida. E não tem.“