Hoje é o Dia da Consciência Negra – data que homenageia Zumbi, herói negro, líder do maior e mais duradouro reduto de libertários negros do Brasil. Respeitando o lugar de fala, a Dyxel Game Publisher cede espaço para Ale Pellegrini, publicitário da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP), com extensão em gestão de marcas pela Essec Paris, estudioso de interculturalidade.
Olá amigos gamers da vida virtual e da real! Eu sou o Ale Pellegrini, pai da Ivy e da Aniké, essas belas personagens que acompanham minha trajetória e venho propor uma aventura conjunta aqui: vamos juntos criar os heróis que possamos celebrar hoje e no futuro? Peço sua ajuda… e já aviso: quem vai julgar são elas, as novas gerações. Para começar, uma boa aventura precisa ter uma pitada de ousadia. Então que tal parar tudo e fazer do Dia da Consciência Negra feriado nacional? Não, não há problema com Natal, Páscoa, Semana Santa, os diversos feriados cristãos que nos acostumamos a celebrar – fui criado católico e gosto de todos eles. Mas é necessário mesmo parar, ao menos um dia do ano, para celebrar a consciência dos negros, que são metade da população do Brasil e contribuíram 4 séculos trabalhando sob violência, sem remuneração, para sua grande contribuição à presente realidade.
O herói que não queremos: não queremos espancamento e morte no Carrefour de Porto Alegre. Nem o herói, nem o vilão! Isso não queremos!
Falando da atualidade, hoje há uma coleção de problemas com os quais nós, negros, estamos bastante relacionados, tais como: violência, pobreza, encarceramento e desigualdade. Mas esses não são problemas do povo negro. São os problemas do país que todos construímos e juntos precisamos criar os heróis que sejam capazes de enfrentar tais problemas. Inspiração não nos falta: pela trajetória de Zumbi, Mandela, Luther King, Rosa Parks, Muhammad Ali ou mesmo nos heróis de hoje, como Hamilton, Lebron, Irmãs Williams e outros levando a vida no Brasil, cujo talento precisa transpassar o racismo estruturado, não deixam dúvida sobre o nosso poder de resiliência.
Heróis demandam superpoderes, né!? Apresento-lhes mais um: das cercanias da ECA – USP, das aulas de pós-graduação, trago o conceito mais moderno sobre o poder da interculturalidade. No século XXI, ser evoluído não é apenas “respeitar” a cultura do outro, numa atitude fria e distanciada. Essa postura apenas multicultural ficou para trás, datada, junto com os banheiros, restaurantes e transportes públicos que eram separados para negros e brancos no Apartheid. Hoje, nossos heróis podem entender e aprender com o diferente, permitindo que a vida, as empresas e a sociedade usufruam do melhor das diferentes culturas. Dessa forma, indígenas podem aprender sobre a evolução da medicina moderna, mas também é preciso que o mundo capitalista aprenda com os índios, sobre meio ambiente e outros temas. Gestores dos melhores centros de ensino precisam aprender com a periferia, aquilo que só a periferia tem a mostrar. Quilombolas podem ensinar sobre integridade social, o que numa única palavra dizemos Ubuntu (filosofia africana que recomenda “humanidade para com os outros” ou “todos somos um”).
Falando dos bons sentimentos, o amor vem bem a calhar na composição dos nossos novos heróis. Então permita-me partilhar um pouco da minha origem: nascido em São Paulo, sou fruto do amor dos jovens Teda e José Pellegrini, que nos anos 50 se conheceram na Associação Cultural do Negro, uma das muitas instituições que lutam por igualdade racial desde o tempo de Zumbi dos Palmares e precisam ser mais conhecidas e reconhecidas por todos nós. O sobrenome típico italiano é proveniente do vovô Vicenzo, branco como marfim, que conheceu a vovó Maria, negra como ébano, mulher ilustrada e à frente do seu tempo. Dessa feliz união brotou mais uma vigorosa ramificação dos Pellegrini, sobrenome tão comum na Itália, como eu pude testemunhar ao visitar Firenze, cidade natal do meu avô. A cor que enriquece nossas faces tem o orgulho negro proveniente de antepassados mais remotos, cujos registros os escravagistas fizeram questão de apagar.
Assim, partilhando mais um superpoder humano, um achado da pesquisadora Marialva Carlos Barbosa, temos em nós, todos nós, “reservas de memória” que, quase de forma sobrenatural, despertam a nossa curiosidade em recuperar vivências ancestrais. Foi exato o que sentimos numa visita à Angola, liderada pela matriarca, país africano que fala português, venceu o Apartheid em vigorosa luta por libertação e deu impulso singular à Declaração dos Direitos Humanos em nosso continente original.
Nesse ponto da aventura, eu quero me certificar de que todos estamos aqui, você mais branco, você mais negro, todos nós. Com toda a riqueza de nossas etnias, religiões e o universo de gênero e orientação sexual com que Deus (ou a Deusa) nos agraciou.
Quero então falar da África como o continente original de toda a humanidade, de todos nós, sem deixar de lado as necessidades de reparações sociais que serão um futuro mais justo e promissor, também para todos nós. Quero celebrar Zumbi dos Palmares e sua força libertária, com o mesmo alcance que tem a palavra de Cristo, no sentido comum do seu clamor por justiça social. Pois é providencial respeitar a história dos grandes heróis da humanidade no âmbito da sua respectiva expressão social. E cabe às Universidades extrair conhecimento e o melhor aprendizado de tudo isso.
Veja que as linhas acima ficaram limitadas para a nossa grandiosa aventura. Então considerando que a tecnologia nos traz de presente a possibilidade de permanecermos conectados, deixo aqui alguns convites:
1. Leia o artigo da pesquisadora Marialva Carlos Barbosa denominado Comunicação, história e memória: diálogos possíveis.
2. Curta o canal Família Ming no YouTube, cujo nome vem de streaming. Inspirado na origem comum da humanidade, converso sobre séries streaming e conteúdos digitais com uma pessoa negra, uma pessoa branca, e assim sucessivamente, de diferentes origens e sempre contemplando a diversidade, como é a cara do mundo.
3. Celebre o afrofuturismo no Festival Online Feira Preta, que celebra a cultura negra há 20 anos em São Paulo. Esse ano o evento tem como destaque o apoio de empresas de tecnologia, onde jovens de periferia são convidados para experimentar os games num verdadeiro cockpit, na iniciativa “Quero ser Fórmula 1”, inspirado no piloto Lewis Hamilton.
4. Hoje sou Executivo de Marketing and Alliance na Carambola, empresa de educação que faz colocação de diversidade em TI. Então fica o convite para conhecer mais uns superpoderes, em especial na trajetória do Gustavo, homem trans, programador fera internacionalmente reconhecido e CEO da empresa.
E registro, enfim, a grande satisfação pelo convite da Érika Caramello, essa heroína publisher! Marvel e DC que se preparem, pois o futuro é Dyxel! Agradeço a ela e a vocês pela inspiração para celebrar alguns heróis aqui.
Feliz Dia da Consciência Negra (apesar dos presentes desafios).
Iluminados superpoderes, grande abraço,
Ale Pellegrini
ale.pellegrini@carambola.com.vc
Redes sociais: @familiastreaming